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AGUCHITA

 

 

Quem foi Aguchita?

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Ela que, segundo as palavras da Irmã Eliana Güisa (Animadora Provincial da Congregação da Nossa Senhora da Caridade do Bom Pastor), “…não foi grandiloquente, nem um aparato elaborado, nem uma busca por status ou fama.”, mas antes “…uma brisa suave que reclamava pelo rosto do vulnerável, abandonado e golpeado pelo abuso e pela violência.”.

Ela que, de acordo com as suas próprias palavras, se via como uma servidora, uma argila nas mãos de Deus, dizendo, com humildade, que tinha “…de aproveitar o tempo que voa, caso contrário, apresentar-me-ia de mãos vazias na eternidade”. No entanto, com o seu incansável trabalho comunitário, que diariamente ia elaborando em prol do próximo, era encontrada por todos com as mãos cheias de bondade, benevolência e perdão.

Ela que, envergando uma vestimenta simples e de rosário na mão, caminhava sempre junto dos povos por onde era precisa, mesmo pelo meio do perigo, calçando os mesmos sapatos que usou grande parte da sua vida, dizendo: “Estas são as sandálias do Bom Pastor, não posso deitá-las fora”.

Ela que, nas terras onde morou e perante os povos com quem trabalhou, com o seu sorriso, bondade e perseverança, se revelou como uma sementeira de paz e produtora de esperança.

Aguchita foi uma grande senhora, para quem “O dom de viver é tão grande!...E eu quero viver para Cristo…”, de cuja vida vale a pena conhecer.

 

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A sua origem:

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No dia 13/06/1920, em Coracora, capital da província de Parinacochas (serra sul do Peru), o casal - Dámaso Rivas e Modesta Lopez - recebeu nos seus braços a primeira filha (dos 11 que tiveram), a quem deram o nome de Antónia Luzmila Rivas Lopez. Nascida no seio de uma família de classe média, que vivia confortavelmente com o produto do trabalho da terra, dos animais que possuíam e do comércio do pai, a pequena Antónia Luzmila foi crescendo, ganhando o gosto pelo trabalho, pela natureza e pelos animais. Por isso, ela preferia ficar em casa com a sua mãe e irmãos a executar, sem medo, as difíceis tarefas da vida quotidiana, fosse em casa ou no campo, do que a participar nas festividades da vila, com o seu extrovertido pai.

Para além disso, durante a sua infância, foi ela também testemunha da vincada catolicidade dos seus pais, com os quais rezava o rosário à noite, ajudava os pobres e atendia os missionários redentoristas com atenção, alimentação e dedicação. E, com o convívio com esses Padres redentoristas, a pequena Antónia Luzmila veio a descobrir a sua vocação religiosa, que diariamente sentia a crescer dentro de si e a cimentar-lhe a vontade de entrar num convento.

 

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A sua juventude:

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A família Rivas Lopez era muito grande e unida. Por isso, não foi com agrado, que o pai de Antónia Luzmila recebeu a noticia da sua filha pretender entrar para um convento, que a levaria, por tempo indefinido, para muito longe da sua casa.  Mas, com o aval da sua mãe (que em mais nova teve a mesma vontade), a já adolescente Antónia Luzmila, com cerca de 13 anos, partiu confiante da sua terra natal Coracora com destino para Lima, acompanhada por um Padre Redentorista.

Uma vez lá chegada, Antónia Luzmila terá estudado em vários locais, dentre eles, a Academia Moderna de Lima, onde tirou o curso de “competência em corte e costura” e a Escola Oficina Sta. Rosa de Magdalena del Mar, onde aprendeu “o curso de costura, rendas, confecção de enxovais, marca, bordados em branco, venezianas, monogramas, bordados em ouro e seda e colchas”. Até que aos 20 anos de idade, após ter concluído a escolaridade básica, a jovem Antónia Luzmila pede para ingressar na Congregação da Caridade da Nossa Senhora do Bom Pastor, que havia conhecido no ano de 1938 no Instituto Sevilla, disposta que estava de percorrer o longo processo de 5 anos até ser consagrada.

No ano de 1940 a jovem Antónia Luzmila é admitida no Pré-noviciado, iniciando um longo caminho de constante crescimento, aprendizagem e conhecimento mútuo entre a Congregação e a candidata, enquanto ansiava, diariamente, a sua tomada de hábito, que só sucederia dois anos depois e só no caso de ser considerada apta a iniciar o noviciado. Em 20/11/1942, Antónia Luzmila viria então a nascer para a igreja com o novo nome de Maria Agustina de Jesus, a quem todos passaram a apelidar carinhosamente de “Aguchita”, dada a simplicidade, humildade e sorriso rasgado que a todos alegrava e enternecia. Nesta nova fase de reflexão da vida, Aguchita foi procurando crescer interiormente ao viver diferentes experiências apostólicas junto duma comunidade local a quem ajudava devotamente, não deixando que o seu sofrimento pessoal, com a sentida morte do seu pai, em 13/09/1944, a desviasse do seu intento. No dia 19/01/1945, Aguchita recebe finalmente uma declaração que certificava a sua idoneidade para fazer os votos temporários. E, no dia 08/02/1945, na festa do Coração de Maria, a feliz e realizada Aguchita viria a fazer os seus votos perpétuos de pobreza, castidade, obediência e zelo apostólico, pela salvação das almas, como o determina a Congregação.

 

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A sua obra:

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Na Congregação, a Irmã Aguchita assumiu, de modo pronto, paciente e sem queixume, toda uma vida de muito e diversificado trabalho, em favor dos necessitados e desfavorecidos, inspirando a todos os que a conheciam. Cumprindo, com esmero, todos os votos que professou. Ao longo do tempo, a Irmã Aguchita mostrou-se sempre atenta às necessidades do próximo, fossem as das suas Irmãs, dos seus irmãos (dado o falecimento da sua mãe em 1952), ou dos povos carentes dos bairros pobres de Lima, desafiando-se sempre a atualizar-se, para que o seu serviço humanitário fosse mais eficaz. Pelo que foi aprendendo novos ofícios, como autodidata ou como aluna nalguma escola especializada, de molde a poder chegar a todos da melhor e da mais completa maneira possível, principalmente àqueles que não tinham acesso a um serviço de saúde.

Desta feita, a Irmã Aguchita foi assumindo as funções de limpeza, agricultora, lavandeira, cozinheira,  confeiteira, educadora, professora, costureira, bordadeira, enfermeira, cuidadora e catequista. As quais ela desempenhou com responsabilidade, entusiasmo, empenho e dedicação. Escutando, compreendendo, aconselhando e evitando, segundo ela, “…o espírito de crítica que é uma praga…”

Assim, com a sua paciência e sapiência, a Irmã Aguchita foi dando às mulheres e crianças as ferramentas necessárias para que pudessem ajudar na economia doméstica, ao ensinar-lhes diversos ofícios de trabalhos manuais, de cujo produto poderiam vender, ou de cultivo e criação de animais. Não esquecendo, no entretanto, de as ir levando a todos a refletir nas palavras de Deus e a rezar com devoção.

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A sua partida do mundo:

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O seu exemplar e destemido serviço em prol dos verdadeiros necessitados levou a Irmã Aguchita a ser chamada para a selva de La Florida, em Fevereiro de 1988, para trabalhar no projeto de formação das mulheres. Nesse local, a comunidade do Bom Pastor era a única presença da igreja nesse povoado, e com as suas oficinas de tecidos, confeitaria e culinária, formava os jovens, prestava assistência às crianças, apoiava os adultos, em especial as mulheres, ensinando a melhorar as hortas, a criar coelhos e galinhas e a comer melhor.

A Irmã Aguchita passaria a viver nessa zona de emergência, rodeada de violência politica e guerrilheira, provocada com ameaças, intimidação, medo e morte, para que todas as pessoas os seguissem. Assim que lá chegou, a amável e bondosa Irmã Aguchita a todos encantou. Por isso, todos procuravam a sua ajuda, mesmo os subversivos, e ela a todos ajudava, fossem eles ricos ou pobres, subversivos ou soldados do exército porque todos eram filhos de Deus e careciam de salvação. Então, apesar de todo o perigo de morte iminente, de cujos agressores preferiam acusar e gerar do que procurar explicações e soluções; não obstante o peso dos seus 70 anos, a Irmã Aguchita não mais quis dali sair porque entendia que a sua presença significava uma mensagem de paz, de tranquilidade e de esperança.

Mas, no dia 27/09/1990, o martírio encontrou a Irmã Aguchita. Enquanto ela se encontrava a ensinar as crianças a fazer a sua especialidade de caramelos de leite com amendoim, que depois embrulhava em papel manteiga, foi chamada para se apresentar na praça, junto com mais sete pessoas do povoado. Aí foi acusada de trabalhar com os ashanincas, de falar da paz e de não fazer nada, de distrair as crianças com caramelos, de distribuir alimentos e de organizar mulheres. Depois de ouvir a sua acusação, a Irmã Aguchita preocupou-se em interceder pelas demais 7 pessoas ali alinhadas. Mas, um a um, foram eliminados e os seus corpos caindo. Quando já só se encontrava de pé a Irmã Aguchita, uma mulher de cerca de 30 anos disparou uma rajada de 5 tiros: 2 do lado esquerdo do tórax, dois no braço esquerdo e 1 no occipital esquerdo, fazendo injustamente sucumbir o seu frágil e indefeso corpo, que se encontrava de mãos juntas e de joelhos ligeiramente vergados, como que procurasse cair ajoelhada por terra, perante Deus.

 

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O que Aguchita nos ensinou?

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No seu caderno intitulado de “Anotações Pessoais”, Aguchita escreveu algumas máximas para a nossa vida. Então, começando por nos perguntar: “Qual é a minha falha?”, devemos depois tentar “Escorar as falhas”. Dizia-nos ela: “Aprenda a rir. O riso é o melhor remédio. Aprenda a cantar bem uma música. Estar alegre é algo que se recebe sempre como um raio de luz no quarto de um enfermo. Aprenda a lidar com todas as pequenas dificuldades diárias que criam atrito com os demais. Aprenda a dizer frases alentadoras. Aprenda a ficar em silêncio, a reservar para si as dificuldades. O mundo está sempre ocupado demais para se importar com os nossos problemas. Aprenda a esconder as dores e os sofrimentos sob um sorriso gentil… Aprenda a reprimir o seu génio caso não consiga encontrar nada que o satisfaça neste mundo, guardando para si o mal que encontrar e não amargar a vida dos outros. Aprenda a sorrir nos piores dias. O riso é o testemunho do próprio domínio. O sorriso é a serenidade e a serenidade é um excelente hábito. O otimista terá amigos francos, colaboradores. Uma ordem dada com um bom semblante é sempre cumprida melhor e com mais boa vontade do que uma dada com a cara fechada. Um grunhido em cada ordem cria um sentimento de rancor, que se eleva no servo. Um sorriso em cada ordem é um remédio mais propenso ao respeito e à amizade daquele que nos serve. Não se esqueçam que se consegue mais com mel do que com vinagre”. Com o seu testemunho, ela ensina-nos que devemos “Saber contemplar a beleza da natureza, não ter sensibilidades fechadas"; e que “Esquecer-se de si é o segredo da paz”. Sem olvidar “A necessidade de confiança integral em Deus (que) nos levantará após as quedas”, tendo presente que “Amar quando somos amadas, fazer o bem quando todos ao nosso redor nos desejam o mesmo não é grande caridade, é uma cortesia agradável; mas amar e fazer o bem quando nos caluniam, precisamente àqueles que nos caluniam, isso sim é caridade. Mostrar-se alegre e afável quando o sangue circula regularmente, quando a saúde torna tudo fácil e ajuda a vontade para que ela possa funcionar bem não é um mérito, mas uma expansão do excesso de força e alegria que carregamos dentro… (Todavia) mostrarmo-nos bons, sorridentes, amáveis, atentos aos desejos dos outros quando a enfermidade consome o nosso organismo, que nos faz incapazes até de pensar, retorcendo-nos com dores agudas, isso sim, é virtude”.

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Pensamentos da Beata Agustina Rivas:

 

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“A grande ilusão que tinha quando descobri a minha vocação de ser religiosa era trabalhar na selva”

 

“Quando cada noite olho o dia, examino-me sobre o amor com que vivi a jornada, quero que a minha vida seja também um dia compacta”

 

“Quero consumir na obra do meu apostolado todas as reservas do meu coração, das minhas faculdades:”

 

“Viver dias cheios! A vida é tão curta…”

 

“Quero ser como a vela que ilumina e diminui.”

 

“A morte não se improvisa… o amor é a nossa vocação”

 

“Tenho que aproveitar o tempo que voa…”

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